A
história da Didáctica está ligada ao aparecimento do ensino no decorrer do
desenvolvimento da sociedade, da produção e das ciências como actividade
planejada e intencional dedicada à instrução.
Desde
os primeiros tempos existem indícios de formas elementares de instrução e
aprendizagem olhando nas comunidades primitivas os jovens passavam por um
ritual de iniciação para ingressarem nas actividades adultas. Esta forma de
acção pedagógica, embora ai não esteja presente o “didáctico” como forma
estrutural de ensino.
Na
Antiguidade Clássica (gregos e romanos) e no período mediaval também se
desenvolvem formas de acção pedagógica, em escolas, mosteiros, igrejas,
universidades. Dai, até meados do século XVII, não se pode falar de Didáctica
como teoria do ensino, que sistematize o pensamento didáctico e o estudo
científico das formas de ensinar.
O
termo “Didáctico” aparece quando os adultos começam a intervir na actividade de
aprendizagem das crianças e jovens através da direcção deliberada e planejada
do ensino, ao contrario das formas de intervenção mais ou menos espontâneas de
antes. Estabelecendo-se uma intenção propriamente pedagógica na actividade de
ensino, a escola se torna uma instituição, o processo de ensino passa a ser
sistematizado conforme níveis, tendo em vista a adequação às possibilidades das
crianças, às idades e ritmo de assimilação dos estudos.
A
formação de teorias didácticas para a investigação as ligações entre ensino e
aprendizagem e suas leis ocorre no século XVII, quando João Amós Comênio
(1592-1670), escreve a primeira obra clássica sobre Didáctica a Didacta Magna que assentava nos
seguintes Princípios:
ü A
finalidade da educação é conduzir à felicidade eterna com Deus, pois é uma
força poderosa de regeneração da vida humana. Todos os homens merecem a
sabedoria, a moralidade e a religião, porque todos, ao realizarem sua própria
natureza, realizam os desígnios de Deus. Portanto, a educação é um direito
natural de todos;
ü Por
ser parte da natureza, o homem deve ser educado de acordo com as
características de idade e capacidade para o conhecimento. Consequentemente, a
tarefa principal da Didáctica é estudar essas características e os métodos de
ensino correspondente, de acordo com a ordem natural das coisas;
ü A
assimilação dos conhecimentos não se dá instantaneamente, como se o aluno registasse
de forma mecânica na sua mente a informação do professor, como o reflexo num
espelho. No ensino os conhecimentos devem ser adquiridos a partir da observação
das coisas e dos fenómenos, utilizando e desenvolvendo sistematicamente os
órgãos dos sentidos;
ü O
método intuitivo consiste, assim, da observação directa, pelos órgãos dos
sentidos das coisas, para o registo das impressões na mente do aluno.
Entretanto,
Comênio desempenhou uma influência considerável, não somente porque empenhou-se
em desenvolver métodos de instrução mais rápidos e eficientes, mas também
porque desejava que todas as pessoas pudessem usufruir dos benefícios do
conhecimento.
No
século XVII, em viveu Comênio, e nos séculos seguintes, ainda predominavam práticas
escolares da Idade Media: ensino intelectualista, verbalista e dogmático,
memorização e repetição mecânica dos ensinamentos do professor.
Jean
Jacques Rousseau (1712-1778), foi um pensador que procuro interpretar essas
aspirações, propondo uma concepção nova de ensino, baseada nas necessidades e
interesses imediatos da criança.
As
ideias mais importantes de Rousseau são as seguintes:
ü A
preparação da criança para a vida futura deve basear-se no estudo das coisas
que correspondem suas necessidades e interesses actuais. Antes de ensinar as
ciências, elas precisam ser levadas a despertar o gosto pelo seu estudo. Os
verdadeiros professores são a natureza, a experiencia e o sentimento. O
contacto da criança com o mundo que o rodeia é que desperta o interesse e suas
potencialidades naturais.
ü A
educação é um processo natural, ela se fundamenta no desenvolvimento interno do
aluno. As crianças são boas por natureza, elas têm uma tendência natural para
se desenvolverem.
Rousseau
não colocou em prática suas ideias em nem elaborou uma teoria de ensino. Essa
tarefa coube a um outro pedagogo suíço, Henrique Pestalozzi (1746-1827), que
viveu e trabalhou até o fim da vida na educação de crianças pobres em
instituições dirigidas por ele próprio. Deu uma grande importância ao ensino
como meio de educação e desenvolvimento das capacidades humanas, como cultivo
do sentimento, da mente e do carácter.
Pestalozzi
atribuía grande importância ao método intuitivo, levando os alunos a
desenvolverem o senso de observação, análise dos objectos e fenómenos da
natureza e a capacidade da linguagem, através da qual se expressa em palavras o
resultado das observações. Também atribuía importância fundamental à psicologia
das crianças como fonte do desenvolvimento do ensino.
Segundo
Herbart (1766-1841), o fim da educação é a moralidade, atingida através da
instrução educativa. Educar o homem significa instrui-lo para querer o bem, de
modo que aprenda a comandar a si próprio. A principal tarefa da instrução é
introduzir ideias correctas na mente dos alunos. O professor é um arquitecto da
mente. Ele deve trazer à intenção dos alunos aquelas ideias que deseja que
dominem suas mentes. Controlando os interesses dos alunos, o professor vai
construindo uma massa de ideias na mente, que por sua vez vão favorecer a
assimilação de ideias novas. O método de ensino consiste em provocar a
acumulação de ideias na mente da criança.
Este
autor estabeleceu quatro passos didácticos que deveriam ser rigorosamente
seguidos: o primeiro seria a preparação e apresentação da matéria nova de forma
clara e completa, que denominou clareza;
o segundo seria a associação entre as ideias antigas e as novas; o
terceiro, a sistematização dos conhecimentos, tendo em vista a generalização; o
quarto seria a aplicação, o uso dos conhecimentos adquiridos através de exercícios,
que denominou método. Posteriorimente, os discípulos de Herbart desenvolveram
mais a proposta dos passos formais, ordenando-os em cinco: preparação,
apresentação, assimilação, generalização e aplicação, formula esta que ainda é
utilizada pela maioria dos nossos professores.
O
sistema pedagógico de Herbart e seus seguidores chamados de herbartianos trouxe
esclarecimentos validos para a organização da prática docente, como: a
necessidade de estruturação e ordenação do processo de ensino, a exigência de compressão
dos assuntos estudados e não simplesmente memorização, o significado educativo
da disciplina na formação do carácter. Entretanto, o ensino é entendido como
repasse de ideias do professor para a cabeça do aluno; os alunos devem
compreender o que o professor transmite, mas apenas com a finalidade de
produzir a matéria transmitida. Com isso, a aprendizagem se torna mecânica,
automática, associativa, não mobilizando a actividade mental, a reflexão e o
pensamento independente e criativo dos alunos.
As ideias pedagógicas de Comênio, Rousseau,
Pestalozzi e Herbart, além de muitos outros que não mencionados, formaram as
bases do pensamento pedagógico europeu, difundindo-se depois por todo o mundo,
demarcando as concepções pedagógicas que hoje são conhecidas como pedagogia
Tradicional e Pedagogia Renovada.
A
Pedagogia Tradicional, em suas varia correntes, caracteriza as concepções de
educação onde prepondera a acção de agentes externos na formação do aluno, o
primado do objecto de conhecimento, a transmissão do saber constituído na
tradição e nas grandes verdades acumuladas pela humanidade e uma concepção de
ensino como impressão de imagens propiciadas ora pela palavra do professor ora
pela observação sensorial. A Pedagogia Renovada agrupa correntes que advogam a
renovação escolar, opondo-se à Pedagogia Tradicional. Entre as características
desse movimento destacam-se: a valorização da criança, dotada de liberdade,
iniciativa e de interesses próprio e, por isso mesmo, sujeito da sua
aprendizagem e agente do seu próprio desenvolvimento; tratamento científico do
processo educacional, considerando as etapas sucessivas do desenvolvimento
biológico e psicológico; respeito capacidades e aptidões individuais,
individualização do ensino conforme os ritmos próprios de aprendizagem;
rejeição de modelos adultos em favor da actividade e da liberdade de expressão
da criança.
Dewey
e seus seguidores reagem à concepção herbartiana da educação pela instrução,
advogando a educação pela acção. A escola não é uma preparação para a vida, é a
própria vida; a educação é o resultado da interacção entre o organismo e o meio
através da experiencia e da reconstrução da experiencia. A função mais genuína
da educação é de promover condições para promover e estimular a actividade
própria do organismo para que alcance seu objectivo de crescimento e
desenvolvimento. Por isso, a actividade escolar deve centrar-se em situações de
experiencia onde são activadas as potencialidades, capacidades, necessidades e
interesses naturais da criança.
Tendências pedagógicas
no Brasil e a Didáctica
O
estudo realizado no Brasil revela que, os autores, em geral, concordam em
classificar as tendências pedagógicas em dois grupos: as de cunho liberal –
Pedagogia Tradicional, Pedagogia Renovada e tecnicismo educacional; as de cunho
progressista – Pedagogia Libertadora e Pedagogia Critico-Social dos Conteúdos.
Na
Pedagogia Tradicional, a Didáctica é uma disciplina normativa, um conjunto de
princípios e regras que regulam o ensino. A actividade de ensinar é centrada no
professor que expõe e interpreta a matéria.
O
movimento escolanovista no Brasil se desdobrou em várias correntes, embora a
mais predominante tenha sido a progressista. Cumpre destacar a corrente
vitalista, representada por Montessori, as teorias cognitivistas, as teorias
fenomenológicas e especialmente a teoria interacionista baseada na psicologia
genética de Jean Piaget.
Uma
das correntes da Pedagogia Renovada que não tem vínculo directo com o movimento
da Escola Nova, mas que teve repercussões na pedagogia brasileira, é a chamada
Pedagogia Cultural. Sua característica principal é focalizar a educação como
facto da cultura, atribuindo ao trabalho docente a tarefa de dirigir e
encaminhar a formação do educando pela apropriação de valores culturais e esta
teve a sua afiliação na Pedagogia científico-espiritual desenvolvida por
Guilherme Dilthey (1833-1911) e seguidores como Theodor Litt, Eduard Spranger e
Hermann Nohl.
Bibliografia
LIBÂNEO,
José Carlos. Didáctica; São Paulo:
Cortez, 1994 - (Colecção magistério. Série formação do professor).