Como fazer com que
uma criança não tenha inibições?
Creio
que o autor da pergunta, o Enoch, ao fazê-la, estava pensando em inibições
sociais, ou seja, a dificuldade de uma criança em dizer ou se comportar entre
outras pessoas. Isto já se liga à segunda pergunta, sobre a extroversão e
introversão.
Para
respondermos a esta pergunta temos que levar em consideração dois factores
fundamentais:
-
As diferenças individuais;
-
A criação de uma criança se dá mais pelos exemplos do que pelas palavras, se dá
mais pelo ambiente inconsciente que ela percebe e imita do que pelo que é
exteriorizado.
Quando
nós queremos que uma criança seja diferente do que ela é (mais extrovertida ou
mais falante ou que coma mais ou qualquer outro comportamento), temos que
pensar que podemos estar cometendo uma violência com ela. Cada pessoa tem o seu
jeito de ser e – como já apontava Carl Rogers – a melhor ferramenta para a
mudança é a aceitação. Temos que saber deixar espaço para que a individualidade
cresça em todo o seu potencial, incentivando as qualidades, os pontos
positivos, as tendências para determinadas áreas.
Quando
vamos interferir neste desenvolvimento infantil, nós temos que levar em
consideração que falar e explicar o que é certo ou errado – por exemplo – pode
ser útil mas muito mais útil é o que nós fazemos e até o que nós escondemos mas
está no horizonte da criança, que como tal, tem geralmente uma grande
habilidade, inconsciente, para perceber o que acontece ao seu redor.
Então,
quando falamos de criação de uma criança, temos que pensar primeiro:
A
criança é um indivíduo único. Valorizar a individualidade é fundamental.
Segundo,
mudar o outro como uma solução para tudo não é o caminho. Vemos muitos pais que
projectam nos seus filhos o que eles deixaram de fazer e isto acaba sendo um
fardo desnecessário, inútil e desagradável. Antes de mudar o outro, temos que
olhar para dentro e ver o que nós podemos melhorar.
Por
exemplo, dizer para uma criança que fumar é errado, enquanto você que é pai ou
mãe fuma…
Sobre
a timidez infantil, caso seja muito aguda, podemos apenas indicar que a criança
seja levada para fazer tratamento com um psicólogo ou psicóloga.
Alunos extrovertidos e
introvertidos
A
dificuldade de educação em massa, ou seja, aulas para 30, 40 alunos é um
problema da própria estrutura escolar como foi concebida já há muitos séculos.
O ideal seria um professor para um aluno… mas como isto está fora de cogitação,
o professor terá sempre que lidar com um grupo. E, quando falamos de grupo,
temos que pensar mais na psicologia social do que na psicanálise e psicologia
analítica.
Quando
falamos de grupo, temos que entender que existem fenómenos grupais como a
formação de um líder e de um bode expiatório (entre outros papéis). O líder é o
que coordenará o grupo – no caso o professor e, às vezes, um ou outro aluno – e
o bode expiatório é aquele que cumpre o papel de total oposto da média do
grupo. Estes são fenómenos que devem ser estudados pelos pedagogos e
educadores.
Com
relação ao tratamento de introvertidos e extrovertidos, a resposta é bem
simples. O professor deve saber reconhecer estes tipos de personalidade e
oferecer conteúdos e actividades que contemplem ambos. Também é importante
valorizar as duas formas de lidar com o mundo e com si mesmo, não colocando uma
como superior à outra.
Filhos únicos e irmãos
Como
disse acima, na criação de uma criança o ambiente externo é fundamental. Mas
não só o ambiente observável, o que poderia ser filmado e visto por todos mas
também o que é vivenciado internamente naquela casa, pelas pessoas próximas à
criança. Dizendo desta forma, pode parecer que as falhas, dificuldades,
sofrimentos de um pai ou uma mãe seriam apontados como influenciadores de
problemas futuros.
Isto
não deve ser pensado. O que é importante é que os adultos também têm que
conhecer a sua própria psique, com sua sombra (e luz), mas também devem ser
mais verdadeiros e honestos, inclusive com o quem tem dificuldade, medo,
preocupação.
Em
outras palavras, quando vamos tratar uma criança, sempre tratamos das pessoas
mais próximas (geralmente o pai e a mãe). Isto porque em geral a criança é
muito nova e não tem experiências que sejam realmente problemáticas, excepto em
casos graves. Deste modo, ao menos em minha experiência clínica 90% dos casos
em que atendi crianças, o problema era com os pais. O sintoma era deles, mas
projectado na criança.
Com
relação às diferenças entre os irmãos e a diferença que um filho único versus
família com irmãos, confesso que não sei o suficiente para dar uma resposta
completa. Mas para responder da melhor forma possível, Bianca e amigos, penso
aqui no teste de associação de palavras de Jung.
Através
deste teste, Jung conseguiu comprovar experimentalmente a existência dos
complexos inconscientes, ou seja, de afectos ligados a determinadas palavras (ou
ideias) que influenciavam o comportamento no teste e na vida. Além de estudar
com o teste os problemas psíquicos de seus pacientes em geral psicóticos, Jung
também realizou o teste com pessoas normais e com pessoas da mesma família.
O
que ficou comprovado é que, por exemplo, uma mãe e uma filha possuem até certo
período da vida, praticamente complexo idêntico. Em uma família com uma filha
solteira (vivendo com a mãe) e uma filha casada, havia complexos idênticos mas
também outros complexos – na filha casada. Ou seja, mãe e filha solteira tinham
complexos idênticos, com alterações em palavras-chave iguais, enquanto a filha
casada já apresentava complexos em algumas palavras – como a mãe e a irmã – mas
outros já tinham sido modificados, em virtude do casamento.
Com
isso, a que conclusões podemos chegar?
Creio
que as conclusões que podemos chegar são que os pais influenciam os filhos em
seus complexos inconscientes – quer queiram quer não. Existem formas de tornar
tais complexos conscientes e modificá-los. A terapia e a mudança de vida (como
o casamento ou ir morar longe) certamente modificarão os complexos. Sobre a
diferença entre quem é filho único e quem não, talvez possamos imaginar apenas
que o nascimento de um irmão ou irmã pode ser fonte de sofrimento para o filho
então único. Outro dado é que surgem necessariamente comparações sobre o jeito
que um filho é e o jeito do outro.
A
comparação não deve ser incentivada em nenhum caso.
Outro dado que também podemos pensar, é que, se a
diferença de idade entre os irmãos for grande, o irmão mais velho pode até
cumprir uma função como pai e a irmão mais velha cumprir uma função como mãe,
tendo maior relevância para o desenvolvimento psíquico do que os pais (Filipe de Sousa (Psicologo).
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