carlosnivagara.blogspot.com

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Como fazer com que uma criança não tenha inibições

Como fazer com que uma criança não tenha inibições?
Creio que o autor da pergunta, o Enoch, ao fazê-la, estava pensando em inibições sociais, ou seja, a dificuldade de uma criança em dizer ou se comportar entre outras pessoas. Isto já se liga à segunda pergunta, sobre a extroversão e introversão.
Para respondermos a esta pergunta temos que levar em consideração dois factores fundamentais:
- As diferenças individuais;
- A criação de uma criança se dá mais pelos exemplos do que pelas palavras, se dá mais pelo ambiente inconsciente que ela percebe e imita do que pelo que é exteriorizado.
Quando nós queremos que uma criança seja diferente do que ela é (mais extrovertida ou mais falante ou que coma mais ou qualquer outro comportamento), temos que pensar que podemos estar cometendo uma violência com ela. Cada pessoa tem o seu jeito de ser e – como já apontava Carl Rogers – a melhor ferramenta para a mudança é a aceitação. Temos que saber deixar espaço para que a individualidade cresça em todo o seu potencial, incentivando as qualidades, os pontos positivos, as tendências para determinadas áreas.
Quando vamos interferir neste desenvolvimento infantil, nós temos que levar em consideração que falar e explicar o que é certo ou errado – por exemplo – pode ser útil mas muito mais útil é o que nós fazemos e até o que nós escondemos mas está no horizonte da criança, que como tal, tem geralmente uma grande habilidade, inconsciente, para perceber o que acontece ao seu redor.
Então, quando falamos de criação de uma criança, temos que pensar primeiro:
A criança é um indivíduo único. Valorizar a individualidade é fundamental.
Segundo, mudar o outro como uma solução para tudo não é o caminho. Vemos muitos pais que projectam nos seus filhos o que eles deixaram de fazer e isto acaba sendo um fardo desnecessário, inútil e desagradável. Antes de mudar o outro, temos que olhar para dentro e ver o que nós podemos melhorar.
Por exemplo, dizer para uma criança que fumar é errado, enquanto você que é pai ou mãe fuma…
Sobre a timidez infantil, caso seja muito aguda, podemos apenas indicar que a criança seja levada para fazer tratamento com um psicólogo ou psicóloga.
Alunos extrovertidos e introvertidos
A dificuldade de educação em massa, ou seja, aulas para 30, 40 alunos é um problema da própria estrutura escolar como foi concebida já há muitos séculos. O ideal seria um professor para um aluno… mas como isto está fora de cogitação, o professor terá sempre que lidar com um grupo. E, quando falamos de grupo, temos que pensar mais na psicologia social do que na psicanálise e psicologia analítica.
Quando falamos de grupo, temos que entender que existem fenómenos grupais como a formação de um líder e de um bode expiatório (entre outros papéis). O líder é o que coordenará o grupo – no caso o professor e, às vezes, um ou outro aluno – e o bode expiatório é aquele que cumpre o papel de total oposto da média do grupo. Estes são fenómenos que devem ser estudados pelos pedagogos e educadores.
Com relação ao tratamento de introvertidos e extrovertidos, a resposta é bem simples. O professor deve saber reconhecer estes tipos de personalidade e oferecer conteúdos e actividades que contemplem ambos. Também é importante valorizar as duas formas de lidar com o mundo e com si mesmo, não colocando uma como superior à outra.
Filhos únicos e irmãos
Como disse acima, na criação de uma criança o ambiente externo é fundamental. Mas não só o ambiente observável, o que poderia ser filmado e visto por todos mas também o que é vivenciado internamente naquela casa, pelas pessoas próximas à criança. Dizendo desta forma, pode parecer que as falhas, dificuldades, sofrimentos de um pai ou uma mãe seriam apontados como influenciadores de problemas futuros.
Isto não deve ser pensado. O que é importante é que os adultos também têm que conhecer a sua própria psique, com sua sombra (e luz), mas também devem ser mais verdadeiros e honestos, inclusive com o quem tem dificuldade, medo, preocupação.
Em outras palavras, quando vamos tratar uma criança, sempre tratamos das pessoas mais próximas (geralmente o pai e a mãe). Isto porque em geral a criança é muito nova e não tem experiências que sejam realmente problemáticas, excepto em casos graves. Deste modo, ao menos em minha experiência clínica 90% dos casos em que atendi crianças, o problema era com os pais. O sintoma era deles, mas projectado na criança.
Com relação às diferenças entre os irmãos e a diferença que um filho único versus família com irmãos, confesso que não sei o suficiente para dar uma resposta completa. Mas para responder da melhor forma possível, Bianca e amigos, penso aqui no teste de associação de palavras de Jung.
Através deste teste, Jung conseguiu comprovar experimentalmente a existência dos complexos inconscientes, ou seja, de afectos ligados a determinadas palavras (ou ideias) que influenciavam o comportamento no teste e na vida. Além de estudar com o teste os problemas psíquicos de seus pacientes em geral psicóticos, Jung também realizou o teste com pessoas normais e com pessoas da mesma família.
O que ficou comprovado é que, por exemplo, uma mãe e uma filha possuem até certo período da vida, praticamente complexo idêntico. Em uma família com uma filha solteira (vivendo com a mãe) e uma filha casada, havia complexos idênticos mas também outros complexos – na filha casada. Ou seja, mãe e filha solteira tinham complexos idênticos, com alterações em palavras-chave iguais, enquanto a filha casada já apresentava complexos em algumas palavras – como a mãe e a irmã – mas outros já tinham sido modificados, em virtude do casamento.
Com isso, a que conclusões podemos chegar?
Creio que as conclusões que podemos chegar são que os pais influenciam os filhos em seus complexos inconscientes – quer queiram quer não. Existem formas de tornar tais complexos conscientes e modificá-los. A terapia e a mudança de vida (como o casamento ou ir morar longe) certamente modificarão os complexos. Sobre a diferença entre quem é filho único e quem não, talvez possamos imaginar apenas que o nascimento de um irmão ou irmã pode ser fonte de sofrimento para o filho então único. Outro dado é que surgem necessariamente comparações sobre o jeito que um filho é e o jeito do outro.
A comparação não deve ser incentivada em nenhum caso.

Outro dado que também podemos pensar, é que, se a diferença de idade entre os irmãos for grande, o irmão mais velho pode até cumprir uma função como pai e a irmão mais velha cumprir uma função como mãe, tendo maior relevância para o desenvolvimento psíquico do que os pais (Filipe de Sousa (Psicologo).

Sem comentários:

Enviar um comentário