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segunda-feira, 15 de julho de 2024

O surgimento do nacionalismo em Moçambique

 

O surgimento do nacionalismo em Moçambique[1]

Por: Carlos Nivagara

Assim como todo o nacionalismo africano, o Moçambicano nasceu da experiencia do colonialismo europeu. A fonte da unidade nacional era o sofrimento em comum durante os últimos 50 anos passados debaixo do domínio efectivo Português. A afirmação nacionalista não nasceu duma comunidade estável, historicamente significando unidade cultural, económica, territorial e linguística. Em Moçambique, foi a dominação colonial que produziu a comunidade territorial e criou a base para uma coesão psicológica, fundamentada na experiencia da discriminação, exploração, trabalho forçado e outros aspectos do sistema colonial.

Mesmo assim, foi limitada a comunicação entre as comunidades sujeitas às mesmas experiencias. Todas as formas de comunicação vinham de cima, por meio da administração colonial. Este facto dificultou o desenvolvimento duma consciencialização única em toda a área territorial. Em Moçambique, a situação foi agravada pela política do «Portugal maior», pela qual a colónia era designada como uma «Província» de Portugal, o povo chamado «portugueses» pelas autoridades. Na rádio, nos jornais, nas escolas, havia muita conversa sobre «Portugal», e muito pouco sobre «Moçambique». Entre os camponeses, essa propagação conseguiu dificultar o desenvolvimento dum conceito de «Moçambique», e, como Portugal era uma ideia muito distante para constituir um factor de unificação, o tribalismo acentuou-se por falta de estímulo para olhar para além da unidade social imediata.

Em muitas áreas onde a população era diminuta e pouco densa, o contacto entre o poder colonial e o povo era tão superficial que existia pouca experiencia pessoal da dominação. Havia no Niassa Oriental alguns grupos que tinham visto os Portugueses antes da deflagração da guerra. Nessas áreas, a população tinha pouca noção de pertencer fosse a uma nação ou a uma colónia, e ao princípio foi-lhe difícil compreender a luta. Todavia a chegada do exército português mudou rapidamente esta situação.

Resistência popular

Onde quer que se sentisse o poder colonial, aparecia alguma forma de resistência, desde a insurreição armada ate ao êxodo maciço. Mas em qualquer momento, era apenas uma comunidade limitada, pequena em comparação com a sociedade, aquela que levantava contra o colonizador, enquanto a própria oposição era também limitada, por ser dirigida somente contra um só aspecto da dominação, aquele aspecto concreto que afectava aquela comunidade naquele preciso momento.

A resistência activa foi finalmente esmagada em 1918, com a derrota do Makombe (Rei) de Barwe, na região de Tete. E desde o princípio dos anos 30, a administração colonial do jovem estado fascista espalhou-se através de Moçambique, destruindo, muitas vezes fisicamente, a estrutura do poder tradicional.

Desse momento em diante, tanto a repressão como a resistência endureceram. Mas o centro de resistência deslocou-se das hierarquias tradicionais, que se tornaram dóceis fantoches dos Portugueses, para indivíduos e grupos, embora por muito tempo estes tenham permanecido isolados nos seus fins e actividades, como os chefes tradicionais o tinham estado.

Era muito frequente a rejeição psicológica do colonizador e sua cultura, mas não era ainda uma posição consciente e raciocinada, era antes uma atitude ligada com a tradição cultural do grupo, suas antigas lutas contra os Portugueses e experiencia de sujeição.

O desejo português de implantar a sua cultura através de todo território, mesmo que fosse bem-intencionado, era completamente destruído de realismo por causa da relação numérica existente. Sendo os portugueses 2% da população, não podiam esperar dar a todos os africanos sequer a oportunidade de observar o estilo de vida português, e muito menos ter íntimo contacto que lhes permitisse assimila-lo. Como muitas nações, também calcularam mal o entusiasmo dos «pobres selvagens» pela «civilização». Visto que a maioria dos africanos só encontravam os Portugueses no momento de pagar impostos, quando eram contratados para trabalho forçado ou quando lhes apreendiam as terras, não era para admirar que tivessem uma impressão desfavorável da cultura portuguesa. Esta repulsa era muitas vezes expressa em cantigas, danças, mesmo em trabalhos de madeira esculpida, formas tradicionais de expressão que o colonizador não compreendia, e através das quais ele podia ser secretamente ridicularizado, denunciado e ameaçado. Os Chope, por exemplo, cantavam׃

Ainda estamos zangados, é sempre a mesma história

As filhas mais velhas têm de pagar o imposto

Natanele disse ao homem branco que o deixasse em paz

Natanele disse ao branco que me deixasse estar

Vós, os velhos, deveis tratar dos nossos assuntos

Porque o homem que os brancos nomearam é um filho de nimguem

Os Chopes perderam o direito à sua própria terra

Deixem-me contar-lhes…

Noutra canção eles ridicularizavam na tentativa de impor as maneiras portuguesas׃

Ouça a canção da gente de Chigombe׃

É aborrecido dizer «bom dia» a todo momento

Macarite e Babuane estão na cadeia

Porque não disseram «bom dia»,

Tiveram que ir para Quissico para dizer «bom dia».

Por outro lado, algumas das esculturas do povo maconde exprimiam uma arreigada hospitalidade à cultura estranha. Nessa área, os missionários católicos desenvolveram grande actividade, e sob a influência deles muitos artistas fizeram madonas e crucifixos, imitando modelos europeus. Ao contrário do que acontecia com os trabalhos macondes sobre temas tradicionais, estas imagens cristas eram na sua maioria rigidamente estereotipadas e sem vida. Mas, por vezes, uma delas afasta-se do estereótipo, e quando isso acontecesse era quase sempre porque se introduzia no trabalho algum elemento de dúvida e desafio, uma madona uma serpente na mão em lugar de um menino Jesus, um padre representado com as patas dum animal selvagem, uma pieta torna-se um estudo de vingança e não de dor, com a mão levantando uma espada sobre o corpo do seu filho morto.

Em áreas específicas e em tempos específicos, estas atitudes, enraizadas na cultura popular, cristalizaram em acções de um tipo ou outro׃ os «mais velhos» «discutiam, sim, os nossos assuntos». Uma forma que resultou deste facto foi o movimento cooperativo, que se desenvolveu no Norte durante os anos 50. Na sua fase inicial, foi mais construtivo do que a manifestação de desafio. Muitos camponeses, incluindo Mzee Lazaro Kavandame, membro do Comité Central da FRELIMO e secretário provincial de Cabo Delegado na altura, organizaram-se em cooperativas, numa tentativa de racionalizar a produção e a venda de produtos agrícolas e de melhorar a sua sorte. As autoridades portuguesas, porem, restringiram severamente a actividade das cooperativas, carregaram-nas de impostos, e mantiveram as reuniões sob estreita vigilância. Foi nessa altura que o movimento começou a adquirir carácter mais político, tornando-se totalmente hostil às autoridades.

O começo do nacionalismo

As condições eram desforráveis à expansão das ideias nacionalistas por todo o país. Por causa da proibição de associação política, da necessidade de segredo imposta por esta proibição, da erosão da sociedade tradicional e da falta de educação moderna nas áreas rurais, foi só entre uma minoria diminuta que ao princípio se desenvolveu a ideia de acção nacional em contraposição com acção local. Esta minoria era predominante urbana, composta de intelectuais e assalariados, indivíduos essencialmente desenraizados do sistema tribal, na sua maioria africanos assimilados e mulatos, por outras palavras, um pequeno sector marginal da população.

Nas cidades, o poder colonial era visto mais de perto e mais fácil de compreender que a força do colonizador era construída sobre a nossa fraqueza e que os seus progressos dependiam da mão-de-obra do africano. Talvez a própria ausência de ambiente tribal ajudasse a incitar a uma visão nacional, estimulasse este grupo a ver Moçambique como terra de todos os moçambicanos, os fizesse compreender a força da unidade.

Encorajados pelo liberalismo da nova república em Portugal (1910-1926), estes grupos formaram sociedades e criaram jornais nos quais conduziram campanhas contra os abusos do colonialismo, exigindo direitos iguais, ate que, a pouco e pouco, começaram a denunciar todo o sistema colonial.

Em 1920 foi fundada em Lisboa a Liga Africana, organização que unia os poucos estudantes africanos e mulatos que vinham para a cidade. Tinha como fim dar «carácter organizado às ligações entre os povos colonizados», participou na Terceira Conferencia Pan-Africana, reunida em Londres e organizada por W.E Du Bois, e em 1923 recebeu em Lisboa a Segunda Sessão da Conferencia. Era significativo conceber a Liga não só a unidade nacional, como também a unidade entre as colónias contra o mesmo poder colonial, uma unidade africana mais alargada contra todas as forças coloniais, e a unidade entre todos os povos negros oprimidos do Mundo. Mas, de facto, era fraca, composta apenas por vinte membros e situada em Lisboa, longe do teatro de possível acção.

Em Moçambique, no princípio dos anos vinte, formou-se uma organização chamada Grémio Africano, que mais tarde se transformou na Associação Africana. Colonos e administração depressa se mostraram alarmados perante as exigências da Associação, e no princípio dos anos trinta, favorecidos pelos ventos fascistas que sopravam de Portugal, iniciaram uma campanha de intimidação e infiltração e conseguiram a aliança dalguns dos chefes para dirigir a Associação em linhas mais conformistas. Formou-se então uma ala mais radical, que se separou e criou o Instituto Negrófilo, e este foi mais tarde forçado pelo Governo de Salazar a mudar o seu nome para Centro Associativo dos Negros de Moçambique. Cresceu a tendência de os mulatos entrarem para a Associação Africana, enquanto os africanos negros se concentravam no Centro Associativo.

Formou-se terceira organização intitulada Associação dos Naturais de Moçambique. Esta era inicialmente concebida como meio de defender os direitos dos brancos nascidos em Moçambique, mas desde os anos 50 abriu as portas a outros grupos étnicos, e depois disso tornou-se bastante activa na luta contra o racismo. Fez mesmo alguma coisa para melhorar a instrução africana por meio de bolsas de estudos. Outras associações similares foram formadas por grupos de interesse menor, como os africanos muçulmanos ou diferentes grupos de indianos.

Todas estas organizações realizavam acções políticas a coberto de programas sociais, assistência mútua e actividades culturais ou desportivas. E lado a lado com estes movimentos desenvolveu-se uma imprensa de protesto, encabeçada pelo jornal O Brado Africano, fundado pela Associação Africana e dirigido pelos irmãos Albasini. Esta imprensa amordaçada em 1936 pela censura de imprensa do governo fascista, mas só constituía um porta-voz relativamente efectivo de revolta.

O espírito destes movimentos iniciais e a natureza do seu protesto ficam bem ilustrados por este editorial de O Brado Africano, de 27 de Fevereiro de 1932 como o texto a baixo ilustra׃

«Estamos fartos. Tivemos que vos aturar, que sofrer as terríveis consequências das vossas loucuras, das vossas exigências…não podemos aguentar mais os efeitos perniciosos das vossas decisões políticas e administrativas. De agora em diante recusamo-nos a fazer maiores e mais inúteis sacrifícios. Já chega. Insistimos que leveis a cabo os vossos deveres fundamentais, não com leis e decretos, mas com actos. Queremos ser tratados da mesma maneira que vós. Não aspiramos ao conforto de que vos rodeia, graças à vossa força. Não aspiramos à vossa educação requintada, ainda menos aspiramos a uma vida toda dominada pele ideia de roubar o vosso irmão. Aspiramos ao nosso ‘estado selvagem’ que, todavia, enche as vossas barrigas e as vossas algibeiras. E exigimos alguma coisa…’pão e luz’. Repetimos que não queremos fome nem sede, nem pobreza, nem uma lei de descriminação baseada na cor. Havemos de aprender a usar o bisturi, a gangrena que espalheis entre nós há-de infectar-nos e então já não teremos a forca para a acção. Agora temo-la nós, as bestas de carga…»

Deste texto surge claramente uma linha de demarcação entre colonizador e colonizado, este vê-se a si próprio como um conjunto dominado, e levanta-se contra um outro conjunto, o grupo colonialista, a quem contesta o poder. É interessante notar a completa rejeição dos valores do colonizador, o orgulhoso assumir do ‘estado selvagem’ e a definição da civilização colonizadora dominada pelo ‘roubar o vosso irmão’.

É verdade que ainda não está formulada a exigência da independência nacional. Esta fase de denuncia, contudo, e a exigência de direitos iguais eram necessárias ao desenvolvimento duma consciência politica que iria conduzir à exigência da independência. Só depois de estas exigências preliminares terem sido rejeitadas se poderia tomar posições mais radicais.

A instrução do Estado Novo de Salazar e a repressão política que se lhe seguiu acabaram com esta onda de actividade política. A corrupção e dissensões internas fomentadas pelo Governo transformaram as organizações em clubes burgueses, que eram frequentemente requisitados pelas autoridades para tomarem parte na vassalagem a Salazar e ao seu regime.

Só no fim da Segunda Guerra Mundial, e com a derrota dos principais poderes fascistas, se tornou possível alguma renovação da actividade política. As mudanças de poder em todo o Mundo e o ressurgir do nacionalismo, particularmente em África, tinham repercussões nos territórios Portugueses, apesar da continuação dum governo fascista em Lisboa e dos esforços das autoridades portuguesas para isolar as áreas que controlavam contra as ideias de autodeterminação que ganhavam terreno noutros pontos.

A revolta dos intelectuais

Mais uma vez, só a pequena minoria culta se achava em posição de acompanhar os acontecimentos mundiais, só ela tinham contactos adequados com o exterior e tinham sido capazes de adquirir o hábito do pensamento analítico, que agora lhe permitiam compreender globalmente o fenómeno colonial.

Em Moçambique levantava-se uma nova geração de insurrectos, activa e decidida a lutar nos seus próprios termos, e não nos termos impostos pelo governo colonial. Estavam aptos para examinar os três aspectos essenciais da sua situação׃ discriminação racial e exploração do sistema colonial, fraqueza real do colonizador, e, finalmente, a evolução social do homem em geral, com o contraste entre o surto da luta negra na África e na América e na muda resistência do seu próprio povo.

Sabiam analisar a situação, mais era lhes difícil fazer mais do que isso. O campo de acção era limitado principalmente pela estrutura de opressão, a insidiosa rede de polícia desenvolvida pelo Estado fascista durante o seu longo período de força, e depois pela falta de contacto entre a minoria urbana politizada e a massa populacional que suportava o fardo da exploração, que de facto sofria o trabalho forçado, o cultivo obrigatório e a ameaça da violência no dia-a-dia. Não é pois de admirar que entre esta minoria a resistência encontrasse, ao princípio, expressão exclusivamente cultural.

A nova resistência inspirou um movimento em todas as artes, que teve inicio nos anos quarenta e influenciou poetas, pintores e escritores de todas a colónias portuguesas. Em Moçambique os mais conhecidos era provavelmente os pintores Malangatana e Craveirinha, o contista Luís Bernardo Honwana e os poetas José Craveirinha e Noémia de Sousa.

Os quadros de Malangatana e José Craveirinha (sobrinho do poeta) foram buscar a sua inspiração às imagens da escultura tradicional e à mitologia africana, ligando-as em obras explosivas de temas de libertação e denúncia da violência colonial.

Os contos de Luís Bernardo Honwana, que foram largamente reconhecidos fora da África como um mestre da sua especialidade, levavam o leitor a fazer a mesma denúncia através duma análise pormenorizada do comportamento humano. Seguindo uma longa tradição de artistas que trabalhavam sob o domínio dum governo opressivo, eles escreviam por vezes em forma de parábolas, ou centralizavam a sua história em volta dum caso concreto que utilizavam para iluminar toda a situação.

Na poesia política dos anos quarenta e cinquenta predominam três temas׃ reafirmação da África como mãe-pátria, lar espiritual e contexto de futura nação, levantamento do homem negro noutras partes do Mundo, chamada geral à revolta, e presentes sofrimentos do povo de Moçambicano, esmagado sob o trabalho forçado e nas minas.

O primeiro destes temas era frequentemente entretecido com os conflitos pessoas do poeta, surgindo os problemas das suas origens e situação familiar já descrita em conexão com a posição social do mulato. Numa forma generalizada, tenta exprimir as raízes comuns a todos os moçambicanos num passado africano pré-colonial, como neste extracto dum poema de juventude de Marcelino dos Santos, «Aqui nascemos»׃

A terra onde nascemos

vem de longe

com o tempo

Nossos avos

nasceram

e vivem nesta terra

e com ervas de fina seiva

foram veias em corpo longo

fluido rubro perfume terrestre

Arvores e granitos erguidos

seus braços

abraçaram a terra

no trabalho quotidiano

e esculpindo as pedras férteis

do mundo a começar

em cores iniciaram

o grande desenho da vida

O melhor exemplo do segundo tema é talvez o poema de Noémia de Sousa «Deixa passar o meu povo», inspirado pelas lutas do Negro Americano׃

Noite morna de Moçambique

e sons longínquos de marimba chegam até mim

-certos e constantes-

vindos nem eu sei donde.

Em minha casa de madeira e zinco,

abro o rádio e deixo-me embalar…

Mas vozes da América remexem-me a alma e os nervos

E Robeson e Marian cantam para mim

spirituals negros de Harlem.

Let my people go

-oh deixa passar o meu povo,

deixa passar o meu povo-,

dizem.

E eu abro os olhos e já não posso dormir.

Dentro de mim soam-me Anderson e Paul

e não são doces vozes de embalo

Let my people go

O sofrimento do trabalhador forcado e do mineiro inspiraram muitos poemas e havia vigorosos exemplos dos principais «Mamana Saquina», de Craveirinha, «A terra treme», de Marcelino dos Santos. Aqueles poemas, porem, tinham interesse não tanto pela sua força e eloquência como pelos termos em que descrevem a situação, porque ilustravam muito ao vivo a fraqueza, assim como a força, do movimento ao qual pertenciam os seus autores. Nenhum destes escritores tinham experimentado o trabalho forçado, nenhum deles esteve sujeito ao Código do Trabalho Nativo, e escreviam sobre o assunto como espectadores, lendo as suas próprias reacções intelectualizadas nos espíritos do mineiro africano e do trabalhador forçado. Noémia de Sousa, por exemplo, escreveu em «Magaiça»׃

Magaiça atordoado acendeu o candeeiro

à cata das ilusões perdidas

da mocidade e da saúde que ficaram soterradas lã nas minas do jone…

Craveirinha, falando do «homem do chope» sob contrato no Rand, escreve׃ «cada vez que ele pensa em fugir era uma semana numa galeria sem sol». Mas de facto nem se fala em «fugir»׃ os moçambicanos contratam-se para as minas a fim de trazer dinheiro para a família e evitar o trabalho forçado sob condições económicas ainda piores. O próprio modo como estes poemas são concebidos, num estilo de eloquente autocompaixão, era estranho à reacção africana. Compare-se qualquer destes poemas com as canções chopes citadas acima. Era evidente que, apesar dos esforços dos seus actores para serem «africanos», tinham recebido mais da tradição europeia do que da africana. Isto indicava a falta de contacto entre estes intelectuais e o resto do país. Nesse tempo, não estavam em posição de forjar um verdadeiro movimento nacional, como não o estavam os camponeses das cooperativas de Lazaro Kavandame. Por outro lado, a sua forca estava no seu entusiasmo e capacidade, adquiridos em parte no seu conhecimento da história europeia e do pensamento revolucionário, para analisar uma situação política e exprimi-la em claros e vivos termos.

Noémia de Sousa esta forte chamada à revolta quando um dos seus companheiros do movimento tinha sido preso e deportado depois de greves de 1947׃

Mas que importa?

Roubaram-nos João

mas João somos nós todos

por isso João não nos abandonou

João não era, João é e será

porque João somos nós, nós somos multidão

e multidão

quem pode levar multidão e fechá-la numa jaula?

No grito Negro, Craveirinha conseguiu dar um dos mais vividos testemunhos de alienação e revolta que jamais foram escritos. Pela sua estreita e significativa estrutura musical, este poema perde muita da sua forca na tradução, mas vale a pena.

O autor refere-se à tradução que fez do poema para a edição inglesa da obra.

A versão original que se segue foi retirada da obra de Mário de Andrade

A Poesia Africana de Expressão Portuguesa (Antologia Temática), vol.I. (Nota do Editor.) citá-lo por inteiro, porque é uma das obras mais importantes e influentes do tempo׃

Eu sou carvão!

E tu arrancas-me brutalmente do chão

e fazes-me tua mina, patrão.

 

Eu sou carvão

e tu acendes-me, patrão

para te servir eternamente como forca motriz

mas eternamente não, patrão.

 

Eu sou carvão

e tenho que arder, sim

e queimar tudo com a forca da minha combustão.

 

Eu sou carvão

tenho que arder na exploração

arder vivo como alcatrão, meu irmão

até não ser mais a sua mina, patrão.

 

Eu sou carvão

tenho que arder

queimar tudo com fogo da minha combustão.

 

Sim!

Eu serei o teu carvão, patrão!

Poucos do grupo de Craveirinha conseguiram escapar ao seu isolamento e fazer a ligação entre a teoria e a pratica. Noémia de Sousa deixou Moçambique, deixou de escrever poesia, para ir viver em Paris, muitos, incluindo Craveirinha e Honwana, ficaram presos. Malangatana trabalhava em Moçambique, mas vigiado de perto e importunado pela polícia. De todos os que mencionei, só Marcelino dos Santos, depois dum longo período de exílio na Europa, se juntou ao movimento de libertação, e desde essa altura, a sua poesia mudou e desenvolveu-se sob o impacto da luta armada. A obra de Craveirinha e dos seus companheiros, influenciaram e inspirou uma geração pouco mais jovem de intelectuais, muitos dos quais conseguiram fugir à vigilância da policia e laçaram-se no movimento de libertação. Ai, no contexto da luta armada, estava a tomar forma numa nova tradição literária.

Esta foi a geração dos que cresceram depois da Segunda Guerra Mundial e que estavam na escola durante os primeiros movimentos de autodeterminação noutros pontos de África. Foi na escola que começou a desenvolver as suas ideias políticas, e foi na escola que começaram a organizar-se. O próprio sistema português de ensino dava-lhes boas razões de descontentamento. Os poucos africanos e mulatos que conseguiram chegar à escola secundária fizeram-no com muita dificuldade. Nas escolas, de frequência predominantemente branca, eram constantemente sujeitos à discriminação. Ainda por cima, as escolas tentavam separá-los do seu ambiente tradicional, aniquilar os valores em que tinham sido criados e fazer deles «portugueses» em consciência, embora não em direitos. O relato que se segue, feito por uma jovem africana que frequentava numa escola técnica de Lourenço Marques, mostra como esta tentativa tinha falhado׃

«Josina Muthemba» mais conhecida em Moçambique como Josina Machel׃

Os colonialistas queriam enganar-nos com o seu ensino, ensinavam-nos só a história de Portugal, a Geografia de Portugal, queriam formar em nós uma mentalidade passiva, para nos tornarem resignados à sua dominação. Não podíamos reagir abertamente, mas tínhamos conhecimento da sua mentira, sabíamos que o que eles diziam era falso, que éramos moçambicanos e nunca podíamos ser portugueses.

Em 1949, os alunos das escolas secundárias, conduzidos por alguns que tinham estado a estudar na África do Sul, formaram o Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM), que estava ligado ao Centro Associativo dos Negros de Moçambique e que, igualmente, a coberto de actividades sociais e culturais, movia entre a juventude uma campanha política para espalhar a ideia da independência nacional e iniciar à resistência contra a sujeição imposta pelos Portugueses. Logo desde o inicio, a polícia vigiou de perto o movimento. Na altura o arquitecto da unidade nacional «Eduardo Mondlane» era um dos estudantes vindos da África do Sul e fundador do NESAM, acabou sendo preso e longamente interrogado a cerca das suas actividades em 1949. Todavia o NESAM conseguiu sobreviver até aos anos sessenta, e ainda lançou uma revista, Alvor, que, embora censurada, contribuiu para espalhar as ideias desenvolvidas nas regiões e discussões do grupo.

A eficácia do NESAM, como a de todas as organizações dos primeiros tempos, era estritamente limitada pelo pequeno número dos seus membros, neste caso, restrita aos estudantes negros da escola secundária. Mas, pelo menos de três maneiras, deu um importante contributo para a revolução. Comunicou ideias nacionalistas à mocidade negra instruída. Conseguiu certa revalorização da cultura nacional, que contra-atacou as tentativas dos Portugueses para levarem os estudantes africanos a desprezarem e abandonarem o seu próprio povo. Deu a única oportunidade de estudar e discutir Moçambique sem ser como um apêndice de Portugal. E, talvez o mais importante de tudo, cimentou contactos pessoais, estabeleceu uma rede de comunicação a nível nacional, que se formou entre gente de todas as ideias, e que podia ser utilizada por um futuro movimento secreto. Por exemplo, quando a FRELIMO se instalou na região de Lourenço Marques em 1962-1963, os membros de NESAM foram os primeiros a serem mobilizados e constituíram uma estrutura para receber o partido. A polícia secreta, ou PIDE, também percebeu isto e proibiu o NESAM, em 1964, prendeu alguns dos seus membros e forçou outros a partirem para o exílio. Neste tempo, Josina Muthemba era activa no NESAM e descreveu este estado de opressão e a sorte do seu próprio grupo׃

«Queríamos organizar-nos, mas fomos perseguidos pela polícia secreta. Tínhamos actividades culturais e educacionais, mas durante discussões, reuniões e debates tínhamos que estar constantemente atentos à policia… a polícia perseguia-nos, e proibiu mesmo o NESAM.

Também fui presa quando fugia de Moçambique. Prenderam-me nas cataratas de Vitoria, na fronteira entre a Rodésia e a Zâmbia. A polícia rodesiana prendeu-me e mandou-me de volta para Lourenço Marques (a policia rodesiana trabalhava em conivência com a policia portuguesa). Éramos oito no nosso grupo, rapazes e raparigas. A polícia portuguesa ameaçou-nos, interrogou-nos e bateu nos rapazes. Fiquei na prisão seis meses sem estar sentenciada nem condenada. Estive seis meses na prisão sem me incriminar sequer de coisa alguma.»

Pouco tempo depois, enquanto tentavam ir da Suazilândia para a Zâmbia, 75 membros do NESAM foram presos pela polícia sul-africana e entregues à PIDE. Foram internados em campos de concentração no Sul de Moçambique.

Em 1963, alguns ex-membros do NESAM fundaram a UNEMO (União dos Estudantes de Moçambique), que faz formalmente parte da FRELIMO e que organizou os estudantes moçambicanos que estudavam com a assistência da FRELIMO.

Em Portugal, os poucos estudantes negros ou mulatos que atingiram um instituto superior reuniam-se na Casa dos Estudantes do Império (CEI) e também estabeleciam ligações, através do Clube dos Marítimos, com marinheiros das colónias que vinham frequentemente a Lisboa. Em 1951, o Centro de Estudos Africanos foi formado por membros CEI, embora não fizesse parte desta. Apesar das medidas opressivas da polícia, a CEI trabalhou activamente, até à sua dissolução em 1965, para espalhar a palavra da independência nacional nas colónias, difundir informação sobre as colónias para o mundo alem de Portugal, e para endurecer e consolidar as ideias nacionalistas entre a juventude. Em 1961, um grande grupo destes estudantes, frustrado e finalmente ameaçado pela natureza persistente da acção da policia, fugiu pela fronteira e conseguiu chegar a França e à Suíça, cortando publica e irreversivelmente com o regime português. Muitos destes estabeleceram imediatamente contactos abertos com os seus movimentos de libertação e muitos destes antigos estudantes do «Império Português» são agora chefes da FRELIMO.

A acção dos trabalhadores urbanos

No período a seguir à Segunda Guerra Mundial, foi entre o proletário urbano que se realizaram as primeiras experiencias da resistência activa organizada. A concentração da mão-de-obra dentro e perto das cidades e as terríveis condições de trabalho e pobreza constituíram o ímpeto fundamental para a revolta, mas, na ausência de sindicatos, eram apenas os grupos políticos clandestinos que podiam dar a necessária organização. Os únicos sindicatos permitidos pelos Portugueses eram os sindicatos fascistas, cujos chefes eram escolhidos pelos patrões e pelo Estado, e que, de qualquer modo, só permitiam a inscrição como sócios aos trabalhadores brancos e ocasionalmente a africanos assimilados.

Em 1947 o descontentamento radical da força de trabalho, combinado com a agitação política, resultou numa serie de greves nas docas de Lourenço Marques e em plantações vizinhas que culminaram numa insurreição abordada em Lourenço Marques em 1948. Os participantes foram ferozmente punidos, e varias centenas de africanos deportados para S.Tome. Em 1956, também em Lourenço Marques, houve uma greve nas docas, que terminou com a morte de 49 participantes. Dai, em 1962-63, elementos clandestinos da FRELIMO tomaram conta do trabalho de organização e iniciaram um sistema mais bem coordenado, que contribuiu para planear as greves das docas, desencadeadas em 1963, em Lourenço Marques, Beira e Nacala. Apesar da sua extensão maior, este esforço também acabou com a morte e prisão de muitos participantes. Embora houvesse alguma organização politica entre os trabalhadores responsáveis pelas greves, a própria acção da greve foi grandemente espontânea e, na sua maioria, localizada. O seu fracasso e a brutal repressão que se lhe seguiu em todos os casos desanimaram temporariamente tanto as massas como os comandos de considerarem a acção da greve como uma arma política eficaz no contexto de Moçambique.

Rumo à unidade

Tanto a agitação dos intelectuais como as greves da força de trabalho urbana estavam condenadas ao fracasso, porque em ambos os casos era apenas a acção dum pequeno grupo isolado. Para um governo como o português, que havia se colocado contra a democracia e estava disposto a usar de extrema brutalidade para esmagar a oposição, era fácil tratar com essas bolsas isoladas de resistência. O próprio fracasso destas tentativas e a feroz repressão que se lhes seguiu tornaram, porem, tudo isto evidente e prepararam o terreno para uma acção de base mais larga. A população urbana de Moçambique atingiu ao todo meio milhão de habitantes, pelo que um movimento nacionalista sem fortes raízes nos campos nunca conseguiria ter sucesso.

Alguns acontecimentos nas zonas rurais, ocorridos no período que precedeu imediatamente a formação da FRELIMO, foram de enorme importância. Tomaram uma direcção extrema na área do Norte, perto de Mueda, embora tivessem repercussões mais fracas noutras regiões. Foram primeiro que tudo os efeitos, sobre as populações, do fracasso do movimento cooperativo já descrito. A reacção dos chefes fica bem ilustrada pelas palavras do próprio Lazaro Kavandame׃

«Não consegui dormir toda a noite. Eu sabia que a partir daquele momento eles não me deixariam mais em paz, que tudo o que eu fizesse seria vigiado e controlado de perto pelas autoridades, eles iriam chamar-me mais e mais vezes ao Posto Administrativo e que eu seria constantemente vigiado pela polícia. A minha única era a fuga…imediatamente tratamos de organizar uma reunião dos chefes do povo com o fim de discutir os meios de acção para reconquistar a nossa liberdade e expulsar os Portugueses opressores da nossa terra. Depois de um longo e importante debate, chegamos à conclusão de que o povo maconde, só por si, não conseguiria expulsar o inimigo. E então decidimos reunir forças com os moçambicanos do resto do país.»

O outro acontecimento, também ligado às cooperativas, foi um aumento da agitação espontânea, que culminou numa grande manifestação em Mueda em 1960. Esta manifestação, embora passasse despercebida no resto do Mundo, actuou como catalisador sobre a região. Mais de 500 pessoas foram abatidas pelos Portugueses, e muitos daqueles que não tinham encarado bem o uso da violência denunciavam agora a resistência pacífica como fútil. A experiencia de Teresinha Mblale, militar da FRELIMO, mostra porquê׃ «Eu vi como os colonialistas massacraram o povo em Mueda. Foi quando eu perdi o meu tio. A nossa gente estava desarmada quando eles começaram a disparar.» Ela foi uma de entre os milhares que decidiram nunca mais estarem desarmados, em frente da violência portuguesa.

Alberto Joaquim Chipande, um jovem de 22 anos na altura e um dos chefes em Cabo Delegado, dá-nos um relato mais completo׃

«Certos chefes trabalhavam no meio de nós. Alguns deles foram levados pelos Portugueses-Tiago Muller, Faustino Vanomba, Kibiriti Diwane- no massacre de Mueda em 16 de Junho de 1960. Como é que aquilo aconteceu? Bem, alguns dos homens puseram-se em contacto com a autoridade e pediram mais liberdade e mais salário… depois, estando o povo a dar apoio a estes chefes, os Portugueses mandaram polícias pelas aldeias, convidando as populações para uma reunião em Mueda. Vários milhares vieram ouvir os Portugueses. Como depois se verificou, o administrador tinha pedido ao governador da província de Cabo Delegado que viesse de Porto Amélia e trouxesse uma companhia do exército. Mas estas tropas esconderam-se ao chegarem a Mueda. Ao princípio não as vimos. Então o governador convidou os nossos chefes a entrarem no edifício da Administração. Eu estava à espera do lado de fora. Ali estiveram durante quatro horas. Quando saíram para a varanda, o governador perguntou à multidão quem queria falar. Muitos queriam falar, e o governador disse-lhes que se colocassem à parte.

Depois, sem mais uma palavra, mandou a polícia amarrar as mãos daqueles que estavam à parte, e a polícia começou a bater-lhes. Eu estava ao pé. Vi tudo. Quando o povo viu o que estava a acontecer, começou a manifestar-se contra os portugueses, e estes limitaram-se a mandar avançar os camiões da polícia para lá meter os presos. Contra isto continuaram as manifestações. Nesse momento a tropa ainda estava escondida e o povo avançou para a policia, tentando impedir que os presos fossem levados dali. Então o governador chamou a tropa, e, quando os soldados apareceram, mandou-os abrir fogo, mataram à volta de 600 pessoas. Agora, os Portugueses dizem que castigaram este governador, mas claro que se limitaram a muda-lo de lugar. Eu próprio escapei porque estava perto dum cemitério onde me consegui esconder, e depois fugi.»

Depois deste massacre, nunca mais o Norte podia voltar à normalidade. Em toda a região tinha-se levantado o mais amargo ódio contra os portugueses e era evidente, uma vez por todas, que a resistência pacífica era fútil.

Assim, por toda a parte, foi a própria severidade da repressão que criou as condições necessárias para o desenvolvimento dum movimento nacionalista militante e forte. O estado policial apertado obrigava toda a acção a ir para a clandestinidade e em parte por causa das dificuldades e perigos a actividade clandestina tornou-se a melhor escola de formação de quadros políticos duros, dedicados e radicais. Os excessos do regime destruíram toda a possibilidade de reformas que, melhorando um pouco as condições, podia ter assegurado os principais interesses coloniais contra um ataque serio, ao menos por algum tempo.

As primeiras tentativas de criar um movimento nacionalista radical ao nível de todo o país foram feitas por moçambicanos residentes nos países vizinhos, onde estavam ao abrigo da alçada imediata da PIDE. Ao princípio, o velho problema de más comunicações levou à criação de três movimentos separados׃ UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique), formada em Salisbury em 1960, MANU (Mozambique African National Union), constituída em 1961 a partir de vários pequenos grupos que existiam de Moçambicanos que trabalhavam no Tanganica e no Quénia, sendo um dos maiores a União Maconde de Moçambique, UNAMI (União Africana de Moçambique Independente), iniciado por exilados da região de Tete e residentes no Malawi.

O acesso de muitas antigas colónias à independência no fim dos anos cinquenta e no principio dos anos sessenta favoreceu a formação de movimentos no exilo e, para Moçambique, a independência de Tanganica, em 1961, pareceu abrir novos caminhos. Os três movimentos tinham centros separados em Dar es-Salam, pouco tempo depois.

Em 1961, também, uma intensificação da repressão em todos os territórios português na sequência da revolta em Angola provocou a afluência de refugiados aos países vizinhos, especialmente em Tanganica (actual Tanzânia). Estes exilados recentes do interior, muitos dos quais não pertenciam ainda a qualquer das organizações existentes, exerceram forte pressão no sentido da formação dum só corpo unido. Houve condições externas que também favoreceram a unidade׃ a Conferencia das Organizações Nacionalistas dos Territórios Portugueses (CONCP), reunida em Casablanca em 1961, e na qual tomou parte a UDENAMO, foi uma forte chamada à união dos movimentos nacionalistas contra o colonialismo português. Uma conferência de todos os movimentos nacionalistas, convocada pelo presidente do Ghana, Kwame Nkurumah, também estimulou a formação de frentes unidas, e no Tanganica, o presidente Nyerere exerceu influência pessoal sobre os movimentos formados no território para que se unissem. Assim, em 25 de Junho de 1962, os três movimentos em Dar es-Salam juntaram-se para formarem a Frente de Libertação de Moçambique, e fizeram-se preparativos para a realização de uma conferência no mês de Setembro seguinte, em que se definiram os fins da Frente e se elaborou um programa de acção.

Para terminar esse nosso apontamento, deixamos um breve relato de alguns dentre os chefes do novo movimento que mostra como as mais variadas organizações políticas e parapoliticas de todo o país contribuiu para ele׃ o vice-presidente, reverendo Uria Simango, era um pastor protestante da região da Beira que tinha trabalhado muito nas associações de resistência mútua e era chefe da UDENAMO. Da mesma associação de assistência mútua veio Silvério Nungu, mais tarde secretario da Administração, e Samuel Dhlakama, membro do Comité Central. Das cooperativas camponesas do Norte de Moçambique veio Lazaro Kavandame, mais tarde secretário provincial de Cabo Delegado, e também Jonas Namashulua e outros. Das associações de assistência mútua de Lourenço Marques e do Xai-Xai, no Sul de Moçambique, vieram Mateus Muthemba e Shaffrudin M.Khan, este ultimo veio a ser representante no Cairo e depois representante da FRELIMO nos Estados Unidos. Marcelino dos Santos, mais tarde secretário dos Assuntos Externos e depois secretario do Departamento de Assuntos Políticos, poeta de fama mundial, teve grande actividade no movimento literário de Lourenço Marques e passou alguns anos de exilo em França.

 



[1] Eduardo Chivambo Mondlane׃ In Lutar por Moçambique

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