Por:
Carlos Nivagara
A
organização do ensino na era colonial
A organização escolar de Moçambique e os respectivos
programas curriculares obedeciam ao plano de ensino nacional seguido em todos
os territórios do Portugal dessa época.
O Governo Central
impôs que os programas do ensino primários aplicados na Metrópole, aprovados
pelo Decreto-Lei no 42994 de 28.5.1960, fossem taxativamente
aplicados nas Províncias Ultramarinas.
As razões principais dessa aplicação taxativa dos
programas às províncias foram:
ü Tácita obediência a uma viscosa tradição e;
ü Comodidade burocrática devida à incompreensão da
diversidade natural dos alunos.
As escolas públicas, em número reduzido, limitavam-se a
oferecer a um número reduzido de crianças a oportunidade de aprender alguma coisa
sobre a cultura e a língua portuguesa.
Em 1963 segundo Golias (1993), existiam em Moçambique os
seguintes tipos de ensino: Primário, Secundário, Médio e Técnico e ainda Agrícola.
O Ensino Liceal compreendia sete classes divididas em
três ciclos: Preparatório, Liceal e Complementar de dois, três e dois anos
respectivamente. Os dois primeiros ciclos tinham programas comuns de cultura
geral, enquanto o 30 ciclo era diversificado.
O ensino técnico dividia-se em dois sectores: Comercial e
Industrial, e era antecedido dum ciclo preparatório de dois anos.
O ensino Agrícola estava dependente dos serviços de
agricultura e floresta e compreendia três graus: Ensino elementar, Agrícola e
Ensino médio. A supervisão pedagógica desse ensino estava a cargo dos Serviços de
Instrução da Província.
Ensino
Primário
O ensino primário estava estruturado diferencial mente
decalcando o regime jurídico de “indígenas” e “civilizados”.
O ensino destinado aos “indígenas”, chamou-se rudimentar
e, depois, de adaptação, destinados aos moçambicanos. Criado em 1930 por
Diploma Legislativo no 238 de 16/1930 e dirigido pela igreja
católica baseando-se na descriminação racial e na unidade entre o ensino e a
religião, tinha como finalidade conduzir gradualmente o indígena da vida de
selvagem para a vida civilizada formar-lhe a consciência de cidadão português e
prepará-lo para a luta da vida, tornando-o mais útil à sociedade e a si
próprio. Este tipo de ensino compreendia tês ramos:
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Ensino Primário Rudimentar – destinava-se
a civilizar e nacionalizar os indígenas da colónia difundindo entre eles a
língua e os costumes portugueses compreendendo as seguintes disciplinas:
ü Língua Portuguesa;
ü Aritmética e sistema métrico;
ü Geografia e Historia portuguesa;
ü Desenho e trabalhos manuais;
ü Educação Física e Higiene;
ü Educação Moral e Canto Coral.
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Ensino Profissional;
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Ensino Normal – tinha por
finalidade habilitar professores “indígenas” para as escolas rudimentares cujo
curso era ministrado em regime de
internato compreendendo as disciplinas seguintes:
ü Língua portuguesa;
ü Aritmética e Sistema Métrico;
ü Geografia e História;
ü Elementos de Ciências Físico-químicas e Naturais;
ü Desenho e trabalhos Manuais;
ü Pedagogia, Moral e Cívica;
ü Educação Física e;
ü Musica.
Alem do ensino regular destas disciplinas, era dada ao
futuro professor uma preparação complementar, em sessões especiais de prática
agrícola, Canto Coral, Educação física e Higiene e ainda de Educação Moral e
Cristã.
Características
do ensino para “indígenas”
ü Ser estritamente delimitado no que respeitava às matérias.
O catecismo era considerado como a disciplina nuclear;
ü Estar inteiramente nas mãos das missões católicas;
ü A intervenção do Estado limitava-se ao estabelecimento de
programas e à concessão de certificados de exames.
Maia tarde e através de documentos legislativos as
escolas normais foram transformadas em escolas de habilitação de professores.
O Decreto-Lei n0 42994, definia as escolas de
posto escolar, isto é, os actuais centros de formação de professores “ não ”
apenas como focos de titulação de indivíduos para acumularem lugares para
a restrita alteração dos povos, mas sim e outrossim habilitar agentes de
civilização e de nacionalização, capazes de contribuir para a melhoria corrente
da vida em seus povos e para transmitir sentimentos a consciência de
pertencerem a uma pátria que todos englobam.
As escolas de habilitação de professores de posto escolar
foram de imediato confiadas aos eclesiásticos os quais tão proponentes se
empenharam em formar “verdadeiros” religiosos menos habilitados mas devotados.
O ensino dos “civilizados” era ensino primário ou ensino
primário comum. Destinado especialmente para os brancos difundia-se nas escolas
oficiais e particulares situadas em centros administrativos.
Os dois tipos de ensino primário eram diferentes quanto aos
objectivos, à estrutura, à complexidade e aos condicionalismos da sua
actividade.
Ensino
de adaptação
Em 1966 o Ensino Rudimentar passou a designar-se de adaptação mantendo-se no entanto,
ü O ensino primário funcionará como ensino de adaptação;
ü A obrigatoriedade escolar compreende o ensino da
adaptação;
ü As matérias ministradas até 2a classe do
ensino comum inclusive, serão distribuídas no ensino de adaptação por três
classes, segundo programas adaptados pelos governadores, em cada província;
ü A adaptação é verificada mediante provas correspondentes
às de passagem da 2a para a 3a classe.
Os programas do ensino de adaptação foram aprovados pela
portaria no 14837 de 04/03/1961 e as matérias ministradas até à 2
classe do ensino primário comum eram distribuídas por três classes do ensino de
adaptação.
Evolução do Ensino Rudimentar ou de Adaptação.
Como se referiu anteriormente, o ensino rudimentar ou de
adaptação estava confiado aos missionários.
E na década de 1951 a 1961 esse ensino evoluiu bastante.
Com efeito, o número de estabelecimentos subiu de mil para mais de 3 mil, a
população escolar atingiu cerca de 400 mil alunos e o número de professores e
monitores escolares aumentou, n mesmo período, de 1119 para 3311.
O
Ensino para “Civilizados”
Os centros administrativos dispunham de escolas oficiais
e particulares destinadas aos brancos e assimilados.
A educação colonial para Europeus e assimilados reflectia
o estádio do subdesenvolvimento da própria potência colonizadora (Portugal).
Com efeito, o desenvolvimento do ensino era lento tanto
em Portugal como nas suas ex-colónias.
Em 1909, por exemplo, havia em Moçambique apenas 48
escolas primárias para rapazes e 8 para raparigas e algumas escolas comerciais
e agrícolas (Cf. Ferreira, E 1974 apud Golias).
Alguns
elementos da pedagogia colonial
O sistema educativo vigente em Moçambique na era colonial
constituiu sempre em dois tipos diferentes de ensino, correspondentes a duas
concepções de educação bastante diversas, educação para “indígena” e educação de
elite para o colonizador e assimilado.
O ensino oficial, organizado para atender os valores e
padrões aristocráticos, representou basicamente a educação da elite colonial.
Altamente discriminatório e alienatório o sistema
colonial de ensino caracterizava-se conforme o seguinte:
a)
Carácter
discriminatório
ü Estabelecimento de dois diferentes tipos de educação, um
destinado à população negra e dirigido pelas missões, outro reservado as
crianças brancas e aos assimilados, confiado ao Estado e instituições privadas;
ü Limitação de ingressos na escola primária oficial e nos
níveis superiores de escolarização sendo a idade, um dos factores a ter em
consideração.
b)
Unidade
entre a religião e o ensino
ü
A
organização, direcção e controlo do “ensino para indígena” estavam confiadas
aos missionários;
ü
O
processo da assimilação e acumulação dos moçambicanos era sobretudo feito
através da educação moral cristã/católica;
ü
O
ensino da religião e moral católica era obrigatório em quase todas as escolas e
níveis de ensino;
ü
A
religião católica era a religião oficial do Estado.
c)
Carácter
fictício da escolarização obrigatória
ü
A
limitação dos ingressos na escola na base da idade, a existência de uma rede
escolar insuficiente e inadequada nas áreas de ocupação colonial foram, entre
outros, os factores inibidores da implementação da política colonial de
escolaridade obrigatória para todos;
ü
A
existência de carências familiares e individuais de natureza económica,
psicológica e social são outros factores que tornaram fictícia a escolarização
obrigatória decretada pelo Governo Colonial;
ü
Outro
factor inibitório as elevada taxas de escolarização, as normas discriminatórias
no recenseamento escolar e as proibição de inscrição e matricula nas escolas
oficiais de crianças não recenseadas.
d)
Carácter
urbano da rede escolar
ü
As
escolas oficiais localizavam-se nos centros urbanos e eram melhor equipadas,
enquanto os postos escolares eram construídos nas zonas rurais para a maioria
da população moçambicana. Estas ultimas eram escolas muito mal equipadas.
e)
Carácter
paternalista
O complexo de superioridade do branco em relação ao preto
era bem patente em alguns livros de leitura em uso nas escolas primárias para
indígenas. Em 1908, no livro de leitura em uso nessas escolas lia-se:
“Pensa, meu menino,
que, d’esta enorme porção de território, nem a centésima parte esta cultivada,
só porque os seus naturais preferem a ociosidade ao trabalho, e veras que
enormes riquezas a terra poderia dar e que não produz por falta de ser
trabalhada”
E prosseguia
afirmando:
(…) e quero
dizer-te mais, que quando souberes a enormes\riqueza que da terra tu podes
tirar, cultivando-a com dedicação, então saberás que grande, que
enorme bem te fizeram os brancos, que te ensinaram todas estas causas, e muitas
outras que as de aprender se frequentares a escola e tiveres vontade de querer
aprender” (cf.Livro de leitura para o uso das Escolas Indígenas da Província
Mocambicana-p.31,1908 apud Golias ).
Educação
no período 1975-1992: Diagnóstico da Educação Básica
Os esforços que desde 1975 a Frelimo e o Governo levaram
acabo constituem uma prova do interesse e de boa vontade dados ao
desenvolvimento do país.
Com efeito, a lei fundamental do país consagra o direito
à educação a todo o cidadão nacional.
Devido a uma política vigorosa conduzida em prol da
educação, o período 1975-85 pode ser caracterizado por aumento dos efectivos
escolares sem precedentes na história da educação em Moçambique. Esse aumento
da população escolarizada acompanhou-se de modificações da estrutura do sistema
educativo assim como do conteúdo do ensino dispensado e ainda da necessidade de
reformas do subsistema de formação de professores para os níveis primários e
secundários.
Educação
Básica em Moçambique: Das opções Politicas à Realidade
Desde à Independência Nacional em 1975 até então, o
processo de escolarização, particularmente ao nível primário, tem-se
caracterizado por uma descontinuidade quantitativa.
Aguardo por si no proximo artigo.
um rico conhecimento veredico
ResponderEliminarObrigado Irmao!
EliminarIsso mostra claramente qui nosa educacao saiu de muito longe
ResponderEliminarFeliz em saber que de outro lado alguem veem e gosta dos nossos trabalhos! Abraco
Eliminarassim e que e mostrar o saber do aprendido. parabens.
Eliminaro trabalho esta bem vindo
ResponderEliminarContinue apreciando a pagina! Abraco
Eliminaruma boa exposicao e inteligente.
ResponderEliminarObrigado! Abraco
Eliminaruma boa exposicao e inteligente.
ResponderEliminaruma boa exposicao e inteligente.
ResponderEliminarsem comentarios, um apontamento muito intersante e rico. obrigado pelo apoio.
ResponderEliminarObrigado! Abraco
Eliminarficarao algumas directrizes em racao ao temo
ResponderEliminarObrigado! Abraco
ResponderEliminarfiquei muito fatisfeito pelo trabalho.
ResponderEliminarAjudou me muito este apontamento. tou grato!!!!!sucessos!!!
ResponderEliminarAjudou me muito este apontamento. tou grato!!!!!sucessos!!!
ResponderEliminarondetermina este texto?
ResponderEliminarsatisfactorio
ResponderEliminarA cada de que convivemos fica sempre um aprendizado. Um prazer e sempre ler os seus trabalhos.
ResponderEliminarGratificante para o mundo academico mocambicano. Merece todo reconhecimento
ResponderEliminarmuito satisfactorio, obrigado
ResponderEliminarmuito satisfactorio, obrigado
ResponderEliminarForça doutor talvez dizer um pouco mais sobre a era colonial no que concerne a formação de professores.
ResponderEliminarUma abordagem pormenorizada,classica e rica, muita forca Dr.!!
ResponderEliminarAcho que faltou a informação de que nos primeiros livros das escolas missionárias, havia tradução de palavras em lingua local.
ResponderEliminarBom conteúdo vai me ajudar no trabalho de pesquisa. Real
ResponderEliminarBom conteúdo vai me ajudar no trabalho de pesquisa. Real
ResponderEliminarBom conteúdo vai me ajudar no trabalho de pesquisa. Real
ResponderEliminarBom conteúdo vai me ajudar no trabalho de pesquisa. Real
ResponderEliminarBom conteúdo vai me ajudar no trabalho de pesquisa. Real
ResponderEliminarBom conteúdo vai me ajudar no trabalho de pesquisa. Real
ResponderEliminarBom conteúdo
ResponderEliminarBom conteúdo
ResponderEliminarBom conteúdo vai me ajudar no trabalho de pesquisa. Real
ResponderEliminarMUITO BOM.
ResponderEliminarBom conteúdo valeu pela ajuda
ResponderEliminarBom conhecimento e me ajudou no trabalho de pesquisa da cadeira de pedagogia
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