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segunda-feira, 8 de julho de 2013

o papel da gestão democrática nas instituições escolares do ensino primário



1.Introdução
 A educação constitui um marco indispensável na vida dos cidadãos de todas as nações do mundo. Como tal, as escolas como organizações onde envolve muitos actores, deve ser prioritário o envolvimento de todos nas diferentes tarefas para permitir um trabalho aberto e democrático.
O presente trabalho, com o tema: o papel da gestão democrática nas instituições escolares do ensino primário, pretende buscar um olhar diferente na gestão das escolas, dando maior enfâse na gestão democrática de modo que todos os intervenientes do processo possam participar activamente nas suas actividades evitando assim o surgimento de conflitos entre os membros da organização.
Para tal, a nossa metodologia basear-se-á na consulta bibliográfica e uma análise critica em torno do tema nas diferentes obras consultadas procurando fazer um olhar comparativo hipoteticamente em relação a realidade Moçambicana.
Sendo assim, a primeira parte do trabalho, reserva-se a introdução, conceitos, problema de estudo e a sua justificativa, objectivos e pergunta de partida segue-se o desenvolvimento teórico e por fim a conclusão.
2.Conceitos:
  • Escola democrática: aquela que afirma a “diversidade dentro de uma política de crítica e compromisso com a justiça social” (McLaren, 1997) apud Lima (Org) et all.
  • Gestão democrática: é uma forma de gerir uma instituição de maneira que possibilite a participação, transparência e democracia. Na gestão democrática, a participação de cada sujeito é fundamental e o reconhecimento de suas ideias e sua contribuição deve ser independente do nível hierárquico (Iris Pereira de Lima dos Santos, 2011).
  • Participação: para Lima (1992), a participação pode apreciar-se, na óptica política, como sendo considerada indispensável para a realização da democracia no país e mesmo a nível organizacional, caracterizando-se nos processos de decisão a nível de gestão e direcção, bem como das diversas actividades planeadas e realizadas com os intervenientes do processo educativo.[1]
Por outro lado, Alves-Pinto (o.c.pp.160), acrescenta dizendo que, numa perspectiva sociológica da acção, e partindo do princípio de que qualquer comportamento implica acção, considera que toda a pessoa que pertença a uma organização a todo o momento está a participar na vida da organização. Simplesmente, as pessoas na organização assumem a condição de actores uma vez elaboram estratégias para concretizar objectivos. Dai que a sua participação possa revestir diversas modalidades em função dos ganhos/perdas que a pessoa/actor anteveja como resultado da sua participação. Por isso mesmo, participar na organização não deixa de ser uma estratégia racional dos actores, e por isso, não participação é também, uma modalidade de participação. Em suma, quando se pensa que não se está a participar, está-se, afinal, a escolher uma modalidade específica da participação (ibidem)[2]
3.Problema de estudo e sua justificativa
Como nos diz Astley e Van de Ven (1983:263) apud Licínio C. Lima, se em certas áreas é pouco credível que na organização se possa operar sem ser referência a regras formais e um extenso conjunto de normas jurídicas, já em outras se admite claramente que tal possa suceder. Pode admitir-se que uma dada escola se proceda a uma implementação curricular que, nas suas grandes linhas (decididas por uma administração centralizada) não se afaste milimetricamente do que está uniformemente estabelecido. Porém, é possível que os órgãos da escola venham produzir regras não-formais quanto à organização dos conteúdos curriculares à avaliação dos alunos. Como tal, este processo deve ser feito com um conhecimento prévio de programação e distribuição das actividades para que o processo possa ser democrático e sem criar conflitos dentro da organização.
Diferentemente do que acontece em algumas instituições do ensino do nosso país (Moçambique). Digo algumas porque a minha experiencia profissional na área da docência, mostrou me situações de directores que tratam os funcionários docentes e não docentes como se estes fossem “robos” bastando para tal uma programação e ele faz tudo como foi programado inclusive o tempo programado não altera.
O ser humano é dinâmico e inteligente por essa razão, classifica-se no grupo dos animais como irracional.
Para Lima (2001), a participação representa uma forma de limitar certos tipos de poder e de separar certas formas de governo, garantindo a expressão de diferentes interesses e projectos com circulação na organização e a sua concorrência democrática em termos de influência no processo de tomada de decisões.
Por essa razão, o estudo do papel da gestão democrática nas instituições escolares do ensino primário permitirá despertar atenção aos gestores escolares para as novas tendências de gestão eficaz.
4.Objectivos
4.1.Objectivo geral:
Fazer uma abordagem em torno do papel da gestão democrática nas instituições escolares do ensino primário.
4.2.Objectivos específicos:
  • Criar uma relação de conceitos teóricos com as convivências do dia-a-dia nas organizações escolares;
  • Analisar hipoteticamente as formas de convivência nas organizações escolares no que concerne a gestão democrática;
  • Formular uma conclusão procurando fazer uma análise crítica da realidade Moçambique baseando-se na minha experiência profissional como docente, em conformidade com os conhecimentos teóricos.
5.Questão de partida
Até que ponto a gestão democrática nas organizações escolares é evidenciada?















6.Desenvolvimento teórico
Numa visão sociológica, as instituições sociais têm um universo alargado como nos reportam Ogburn & Nimkoff (1971) apud Lakatos (1987), outro tipo de organização são as associações cuja característica é serem mais especializadas e menos universo do que as instituições; em consequência, apresentam em geral, determinada adaptação às classes sociais. Clubes e outras associações específicas limitam, geralmente, a participação de seus membros de acordo com a sua posição social. Exemplos: clubes recreativos, sociedades secretos, etc.
Finchter (1973) apud Lakatos, conceitua instituição como “uma estrutura relativamente permanente de padrões, papéis e relações que os indivíduos realizam segundo determinadas formas sancionadas e unificadas, com o objectivo de satisfazer necessidades sócias básicas”. Tendo como características:
  • Finalidade: satisfação das necessidades sociais;
  • Conteúdo relativamente permanente: padrões, papéis e relações entre indivíduos da mesma cultura;
  • Serem estruturadas: há coesão entre os componentes, em virtude de combinações estruturais de padrões de comportamento;
  • Estrutura unificada: cada instituição, apesar de não poder ser completamente separada das demais. Funciona como uma unidade;
  • Possui valores: código de conduta.

Todas as instituições devem ter função e estrutura. Função é a meta ou o propósito do grupo, cujo objectivo seria regular suas necessidades (Lakatos, 1987). A estrutura é composta de pessoal, equipamentos, organização (disposição do pessoal e do equipamento, observando-se uma hierarquia-autoridade e subordinação); comportamento (normas que regulam a conduta e a atitude dos indivíduos).

Tabela 01: Estrutura das principais instituições sociais.
Partes da estrutura
Família
Igreja
Estado
Empresa
Escola
Modelos de atitudes e comportamentos
Afecto, amor, lealdade, respeito
Reverência, lealdade, temor, devolução
Subordinação, cooperação, temor, obediência.
Trabalho, economia, cooperação, lealdade.
Ensino, aprendizagem, cooperação, respeito.
Traços culturais simbólicos (símbolos)
Herdados, aliança, brasão, escudo de armas, bens imóveis.
Cruz, imagens, relicários, altar.
Bandeira, selo, emblema, hino.
Marca comercial, patente, emblema.
Emblema, símbolo da profissão, beca, borla, capelo.
Traços culturais utilitários (bens imóveis)
Lar, habitação, propriedades.
Igreja, catedral, templo.
Edifícios, públicos, obras públicas.
Loja, armazém, fábrica, oficina.
Edifícios das faculdades, campus
Códigos orais ou escritos
Certidão, casamento, testamento, genealogia
Credo, doutrina, bíblia, hinos.
Constituição, tratados, leis, estatutos.
Contratos, licença, franquias, estatutos.
Lei orgânico do ensino, regimentos, currículos.






Fonte: LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral; 5a edição; S.Paulo;Atlas; 1987

Fazendo uma retrospectiva, no que concerne a uma maior percepção das organizações, verifica-se que as suas doutrinas colocam questões actuais da maior importância para o estudo das mesmas, se levarmos em consideração, entre outros focos os seguintes no olhar de Chiavenato, 1987; Ferreira et al., 1996, 2001 apud FIRMINO, Manuel Brazinha, 2010:
O entendimento do papel do homem enquanto actor racional (abordagem clássica), do homem funcional (abordagem sócio-técnica), do homem sociológico (escola das relações humanas), do homem complexo (abordagens contingenciais), do homem político (abordagens políticas), do homem institucional, cultural e reflexivo (teorias ecológicas e sociocognitivas) e do homem colectivo na luta pela emancipação social (abordagens macro-sociais e críticas das organizações).
Numa perspectiva crítica ao antigo paradigma, taylorista podem ser abertas ou fechadas. As organizações são encaradas enquanto máquinas ou organismos vivos, como  sugerem abordagens contingenciais; a necessidade de uma relação equilibrada do homem com o sistema técnico (abordagens sócio-técnica); os grupos informais, as recompensas nas económicas e os valores (escola das relações humanas); a análise do poder do no interior das organizações e dos grupos detentores de influência externa; a organização, a tecnologia e a sua tipologia, e a influência das variáveis do meio ambiente (abordagem contingenciais); a organização enquanto produto do cérebro humano (teorias sociocognitivas);  a organização vista como resposta a necessidades e motivações
 Dos indivíduos e reflexo do seu comportamento (teoria da motivação); a organização entendida como sistema hemostático, em equilíbrio (teorias sistémicas); as teorias legitimadoras de estruturas, enquanto reflexo de normas subjacentes, de regras e de procedimentos (aprendizagem organizacional) e o problema da legitimidade da autoridade (a burocracia).

6.1.Algumas teorias recentes e a abordagem política das organizações
Peters & Waterman (1987) apud Firmino, apontam que após 1970, a perspectiva do sector social, e em sistema aberto, ganha importância, onde a abordagem sociocognitiva de Karl Weick enfatiza dizendo que, “uma organização é um corpo de pensamento pensado por pensadores pensantes”(citação da citação: Ferreira et al. , 1996 citado por Firmino, 2010). Esta abordagem assenta na acção intersubjectiva dos seres humanos, que molda as organizações através dos processos sociocognitivos.
A procura do óptimo não é obra apenas de um decisor, cada grupo, no sei da organização, tem interesses específicos, que podem ou não convergir com os interesses dos outros grupos, (o director duma escola pode divergir dos professores e estes, dos alunos); não se pode afirmar que a gestão centrada nos resultados é sempre melhor do que a centrada nas pessoas; a gestão participativa poderá implicar a negociação em domínios diversos, como por exemplo, nos acordos sobre tecnologia, contrariando a lógica do determinismo tecnológico; as estratégias dos actores, nos mais variados domínio, o curto, médio e longo prazo, podem ser conflituantes, tornando-se necessária a negociação ou mesmo a decisão conjunta. As mesmas forças que ameaçam o equilíbrio interno, com potencial antagonismo, conduzindo ao impasse poderão contribuir activamente para a criação de soluções inovadoras, que, graças ao entusiasmo colectivo e a uma maior responsabilização dos intervenientes, tornarão a escola mais competitiva (versão a partir de Firmino, 2010).
O estudo da participação nas organizações difere do estudo da participação em outras instituições e em grupos de factos, de acesso não voluntário, chamada participação de facto.[3]
Professores e alunos participam na escola pelo simples facto de serem membros da organização e de ai desenvolverem actividades como ensinar e aprender, leccionar aulas e frequentar aulas, avaliar e serem avaliados. Na medida em que tais actividades podem ser consideradas imprescindíveis para que se possa falar de escola de processo de ensino-aprendizagem, elas são requisitos decorrentes do status e das atribuições dos respectivos membros
6.2.Clima de trabalho e eficácia da escola
O papel do clima de trabalho no funcionamento de uma escola é um assunto que vem sendo tratado há alguns anos atrás, sendo um conceito popularizado após ter sido utilizado por  Gellerman (1964) com três definições distintas:
ü  Medida do clima definido por Frehand e Glimer (1964) citado por Brunet, referem a medida múltipla dos atributos organizacionais consiste na dimensão da empresa, tecnologias em uso, os níveis hierárquicos, a produtividade dos empregados.
ü  Quanto a medida perceptiva dos atributos individuais o clima é avaliado em função da satisfação das necessidades individuais em termos micro-percepção dos trabalhos.
ü  A medida perceptiva dos atributos organizacionais destaca-se pela reacção dos membros da organização, da sociedade e do indivíduo no seu meio de trabalho valorizando-se mais dos bens do que os objectivos.
Actualmente considera-se as recentes teorias sobre o clima organizacional em relação as primeiras duas definições; assim, o clima das organizações considera-se:
ü  Cada escola pode possuir uma personalidade própria e um clima específico;
ü  O comportamento e as políticas dos membros de direcção servem de referência para interpretar o clima existente:
ü  Esse clima funciona como força motriz do comportamento da organização.
6.3. As causas do clima
O clima faz parte do fenómeno cíclico com três variáveis determinantes:
ü  Estrutura que caracteriza-se pela dimensão da organização e níveis hierárquicos;
ü  Processo organizacional – estilo de direcção, gestão dos Recursos Humanos, modos de comunicação, modelos de resolução de conflitos, etc.
ü  Variável comportamental – funcionamento individual e de grupos que trabalha.
Para Fox, cada escola possui o seu clima em função de: tipo de programa, processos utilizados, condições ambientais (alunos, departamentos, membros da direcção, etc), o clima determina a qualidade da vida, sem bom clima não há condições para a eficácia da escola, quando o rendimento da escola não corresponde com os objectivos esperados a direcção da escola poderá alterar as três variáveis para melhorar o clima






















7. Conclusão
Depois de uma descrição detalhada dos dados teóricos e uma analise hipotética comparando a realidade Moçambicana com base na minha experiência como docente do ensino primário cronologicamente datado em sensivelmente 10 anos, conclui-se que é altura dos gestores escolares começarem a olhar para as novas tendências rumo ao alcance de resultados eficazes através da gestão democrática em vez de autocrático que muitas vezes os caracteriza.
Essa ideia é sustentada por vários autores como o caso do Xavier (1996),quando diz que, “a experiencia tem demostrado que uma educação de qualidade não pode ser obtida em sistemas educacionais e escolas envoltos em burocracias lentas e centralizadoras, preocupados excessivamente com normas e regulamentos e com uma estrutura hierárquica que não lhe confere agilidade na solução dos problemas.
Sabe-se, hoje, que a escola faz diferença, sim, no desempenho dos alunos, e que sua adequada gestão é indiscutível para o adequado atingimento de seus objectivos. Há provas contundentes de que a gestão é uma componente decisiva da eficácia escolar. Inúmeros estudos, no Brasil e no exterior, vêm comprovando que escolas bem dirigidas e organizadas são mais eficazes”.
















Bibliografia
FIRMINO, Manuel Brazinha. Gestão das organizações (conceitos e tendências actuais), Escolar Editora; 4a edição; Lisboa; 2010,2009,2007,2002.
NÓVOA, António (coord). As organizações escolares em análise; Dom Quixote, Lda; Lisboa; 1992;
LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral, atlas, 5a edição , S.Paulo, 1987;
LIMA, Lícinio C. A escola como organização educativa; Cortez Editora; S.Paulo; 2001;
LIMA, Licínio C.(Org), SILVA, Eugénio A. et all. Perspectivas de analise organizacional das escolas; Fundação Manuel Leão, 2011;
SANTOS, Iris Pereira de Lima. A gestão democrática da escola: As relações político-pedagógica do docente e seu gestor; Salvador/BA, 2011
 XAVIER, António Carlos da R. A gestão da qualidade e a excelência dos serviços educacionais: Custos e benefícios de sua implementação; Brasília, 1996


[1] http://www.ipv.pt/millenium25/25-34.htm
[2] http://www.ipv.pt/millenium25/25-34htm
[3] Uma visão de Albert Meister (1974:26) citado por Lima

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